Uma de suas obras mais relevantes é Humanisme Intégral de 1936, onde propõe um novo modelo de cristandade, apto a enfrentar e santificar os turbulentos tempos marcados por um ideal materialista burguês que perdeu a noção de Deus e que nesse processo perdeu seu próprio sentido. A ideia central do filósofo é de é necessário resgatar a noção de um de homem completo, integral, que não se realiza tão somente através das questões materiais, mas que deve (e necessita) ter como último fim a união com Deus. Dentro desse raciocínio, a sociedade deixa de ser um fim em si próprio, e passa a ser um instrumento para uma perfeita comunhão com o Cristo. Importa destacar que quando a obra era escrita, os regimes totalitários da Alemanha nazista, da Itália fascista e a URSS stalinista estavam em seu apogeu, e a ideia de um Estado fonte e finalidade de toda atividade humana era sedutora como nunca.
O conceito de Humanismo Integral elaborado por Maritain foi plenamente absorvido pela Igreja Católica, que transformou em um dos pilares de sua Doutrina Social.
Alguns trechos selecionados da obra:
Tomado em si mesmo, o mecanismo ideal da economia capitalista não é essencialmente mau e injusto, como acreditava Marx, entretanto a considerar o espírito que usa concretamente desse mecanismo, e que determina suas formas concretas e suas realizações particulares, deve dizer-se que esconde uma desordem radical.
A energia que estimula e entretém essa economia foi progressivamente corrompida por um pecado "capital"; não certamente por um pecado que dá a morte à alma dos indivíduos forçados a viver no seio desse mundo e a utilizar suas engrenagens , mas por um pecado que dá pouco a pouco a morte temporal ao corpo social: o culto do enriquecimento terrestre tornando-se a forma da civilização. O espírito objetivo do capitalismo é um espírito de exaltação das potências ativas e inventivas do homem e das iniciativas do indivíduo, mas é um espírito de ódio da pobreza e de desprezo do pobre; só existe o pobre como instrumento de uma produção que rende, não como pessoa; o rico ademais só existe de seu lado, como consumidor (para o lucro do dinheiro que serve esta mesma produção), não como pessoa; e a tragédia de um mundo como tal é que, para entreter e desenvolver o monstro de uma economia usurária, será preciso necessariamente tender a transformar todos os homens em consumidores, ou ricos, mas então, se não há mais pobres, ou instrumentos, toda essa economia pára e morre; e morre também, como se vê em nossos dias, se não há suficientes consumidores para fazer trabalhar os instrumentos.
Não podeis transformar o regime social do mundo moderno senão provocando ao mesmo tempo, e principalmente em vós mesmos, uma renovação da vida espiritual e da vida moral penetrando até os fundamentos espirituais e morais da vida humana, renovando as ideias morais que presidem à vida do grupo social como tal e acordando nas profundezas deste um novo impulso...
Não tem por ofício a sociedade política conduzir a pessoa humana à sua perfeição espiritual e à sua plena liberdade de autonomia (isto é, a santidade, a um estado de libertação propriamente divino, porquanto é a vida mesma de Deus que então vive no homem). Entretanto a sociedade política é essencialmente destinada, em razão do próprio fim terrestre que a especifica , ao desenvolvimento de condições de meio que levem de tal sorte a multidão a um grau de vida material, intelectual convinhável ao bem e à paz do todo, que cada pessoa se sinta ajudada positivamente para a conquista progressiva de sua plena vida de pessoa e de sua liberdade espiritual.
A condenação lançada pelo cristão à civilização moderna é mais grave em verdade e mais motivada que a condenação socialista ou comunista, porquanto não é somente a felicidade terrestre da comunidade, é também a vida da alma, o destino espiritual da pessoa, que é ameaçado por esta civilização.
É impossível - seria contrário à estrutura mental da humanidade, pois toda grande experiência , mesmo efetuada no erro, é orientada pela atração de certo bem, tão mal procurado como se suponha, e descobre por conseguinte regiões novas e novas riquezas a explorar, - é impossível conceber que tenham sido inúteis os sofrimentos e as experiências da era moderna. Procurou esta era, como dissemos, a reabilitação da criatura, procurou-a por maus caminhos, mas devemos reconhecer e salvar a verdade que nela se escondia, cativa.Jacques Maritain foi ainda bastante influente no desenvolvimento do ideal de Democracia Cristã, e seu pensamento chegou a ter distintos representantes no Brasil como Gustavo Corção e Alceu Amoroso de Lima. Mas isso é outra história.
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