segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Sobre espantalhos e conservas


Há algum tempo, os adjetivos conservador e neoliberal  viraram palavrões na pena de muita gente influente, mas de modo especial nos artigos e blogs que representam o lado esquerdo da Força, principalmente nessa época em que o Império Contra-ataca e muitos esperam o retorno do Jedi.

Eu mesmo, por muito tempo usei os termos pejorativamente, e achava que conservadores, afinal de contas, deveriam ser sujeitos muito estúpidos e malvados por não quererem que as coisas mudassem para melhor. Neoliberais, então nem se fala: se comunistas comeriam criancinhas, neoliberais torturariam e comeriam cachorrinhos fofinhos - o que para o homem médio hoje em dia, parece ser bem pior.

Mas... o tempo passa, a leitura e a experiência se acumulam, as ideias assentam, as reflexões tornam-se mais profundas, e acabamos vendo que, para pôr em termos mais simples, fomos babacas e falamos de coisas que não tínhamos a mínima ideia do que se tratava. Foi o meu caso (infelizmente).

Então, compartilhando minha experiência prévia - a quem queira, talvez, xingar com mais propriedade, ou ainda quem sabe (?), rever seus conceitos, recomendo a leitura de alguma coisa de alguns escritores que se debruçaram sobre os temas do conservadorismo e do liberalismo : são estes, Russell Kirk, Edmund Burke, T.S. Eliot (a prosa, não a poesia). F.A. Hayek, Ludwig Von Mises,Michael Oakshott,  J.P. Coutinho, J.O. Meira Penna, Samuel Johnson e Adam Smith. Se mesmo conhecendo o trabalho desses pensadores, você mantiver suas opiniões prévias (o que é possível, visto que a meu ver, o posicionamento político está mais ligado a afinidades e sentimentos, do que à racionalidade estrita na maioria dos casos), ok, podemos concordar em discordar civilizadamente.

Mas ao menos,  ponha em prática os ensinamentos de Sun Tzu na Arte da Guerra - conheça seus inimigos. Porque por exemplo: definitivamente, não, o PSDB não representa a direita - é o 'Partido da Social-Democracia Brasileira' percebe? Gostando, ou não, "traidores do movimento, véio" - como já diria Dado Dolabella sacando sua machadinha(1) - ou não, o fato que a democracia brasileira é uma espécie de 50 tons de vermelho com quase todos os partidos pregando um Estado forte, bastante intervenção na economia, vários benefícios e incentivos visando em tese, reduzir a desigualdade social. Como os projetos todos, não são lá muito diferentes em suas cosmovisões, o que se disputa de verdade é o poder, pura e simplesmente. Não há uma verdadeira dialética de ideias. Os que querem chegar lá, sempre se vendem como progressistas, transformadores e os que já estão estabelecidos, já detém alguma forma de poder, acabam sendo vistos como "conservadores", ainda que defendam basicamente as mesmas ideias do grupo oposto. Nada mais caricato e rasteiro.

Então, antes de sair por aí, apavorando os "conservas", tentar descobrir o que exatamente, o termo representa no ideário político/filosófico, é bem interessante. Pode até ser que você descubra algo que te interesse, ou talvez, que o conservadorismo, a direita, é ainda pior do que você pensava. Dando uma palhinha, eu diria que é a "ideologia que nega as ideologias", ou o "ceticismo político". De qualquer forma, com a busca de informações o debate real sairia enriquecido. Afinal de contas, rebater o argumento de "espantalhos" é sempre mais fácil. E também, inútil.

Sugestão de ensaios/artigos:

http://www.kirkcenter.org/index.php/detail/ten-conservative-principles/
http://www.theimaginativeconservative.org/2014/10/roger-scruton-modern-political-conservatism.html
http://exame.abril.com.br/revista-exame/noticias/nos-os-de-direita

(1) Para quem não lembra: https://www.youtube.com/watch?v=wqKqLOnX_zw

Casamento Moderno: Revolução ou Retrocesso?


Por Dwight Longeneker

Traduzido para o português por Leandro L. L. Rodrigues

Disponível em http://www.theimaginativeconservative.org/2014/02/modern-marriage-revolution-regression-monogamy.html


Os crentes na inevitabilidade do progresso apontam para a revolução sexual e o feminismo como exemplos de "libertação." Finalmente as mulheres estariam livres do trabalho penoso da vida doméstica e  prontas para fazer valer a sua " liberdade reprodutiva". Finalmente, elas seriam livres para embarcar em carreiras significativas e lucrativas e tomar o seu lugar nos corredores do poder com os homens. Certo?

Não é bem assim . Algumas mulheres de sorte que tiveram a oportunidade de ter uma educação de elite  podem até ser livres dessa maneira, mas a realidade para muitas mulheres comuns não é de progresso e de liberdade , mas de formas mais profundas de dominação e escravidão. Refiro-me à ascensão do matriarcado moderno e da poligamia.

Eu vivi na Inglaterra por 25 anos e testemunhei o resultado da liberação sexual e da "liberdade reprodutiva" para as mulheres. A livre disponibilidade da contracepção artificial e o relaxamento do código de moralidade sexual combinado com benefícios financiados pelo governo para mães solteiras produziu uma subclasse de mal -educados, famílias desmotivadas chefiadas por mães solteiras.

A menina inglesa da classe trabalhadora deixa os estudos, por estar grávida com a idade de dezesseis anos. Vive com subsídios estatais - habitação e uma renda para sustentar a si e seu filho. Se ela se casasse acabaria perdendo essa pensão alimentícia. Acaba então tendo o interesse de ter mais filhos para aumentar sua renda . Não faltam homens jovens dispostos a ajudá-la nesta tarefa.

Se suas filhas continuarem nesse mesmo padrão de vida, quando ela tiver trinta e cinco anos já será uma avó. Aos cinquenta anos ela será uma bisavó e as três gerações viverão em estreita proximidade como uma tribo matriarcal moderna.

Em todas as sociedades matriarcais, as mulheres controlam a renda , cuidam da casa, educam as crianças , e sustentam a família. Os homens vagam como caçadores nômades - vivendo de seguro desemprego ou do trabalho informal , gastando seu tempo com esportes ou outros passatempos enquanto as mulheres (cuidadas pelo Estado ) controlam a casa. Os homens vivem ou com a mãe ou com a(s) namorada(s) , muitas vezes em série. Eles não tem nenhum motivo para pensar em casar, ou razão para ambicionar um emprego permanente - não há razão para " pensar mais alto" .

Enquanto isso é de fato, uma característica das classes mais baixas, seria errado dizer que se limita a ela. Através de fatores como a facilidade de se divorciar, a coabitação , e o declínio do casamento, o novo matriarcado também existe no seio das classes média e alta. Aqui também, os homens foram mandados para fora através do divórcio . As mulheres reclamaram a  propriedade, criam os filhos , e os homens foram relegados as opções de viver sozinho ou com uma série de namoradas ou esposas novas. Famílias com enteados e crianças de pais diferentes abundam, quase sempre com as mulheres no comando .

Embora este tipo de matriarcado coloque as mulheres no comando, ela degrada e humilha o homem . O matriarcado moderno não é um avanço . Ele não leva a prosperidade humana , a realização humana , ou qualquer sentido humano de auto-estima . Os homens se ressentem por serem rejeitados pelas mulheres, as mulheres se ressentem de ter que fazer tudo. As crianças são deixadas à própria sorte.

Este matriarcado não é um plano , mas a consequência da ideologia cega de libertação sexual. Não é um progresso, mas um retrocesso a uma estrutura social mais primitiva.

A outra alternativa regressiva que se desenvolve na sociedade ocidental é a poligamia ou poliamor . Haverá uma abundância de argumentos utilitaristas para a poligamia : "Certamente é melhor para uma criança ter duas mamães e dois papais ! Há mais adultos para compartilhar o fardo da paternidade, a renda familiar é maior e há mais amor para espalhar ! "

A lei (uma vez que se aprove casamentos do mesmo sexo ), não será empecilho para conter o "avanço "que a poligamia oferece. No entanto, como o matriarcado , a poligamia é um retrocesso , e não um avanço . A poligamia atrasará os direitos da mulher e abalará sua auto-estima, prendendo-as em um relacionamento com um homem que tem tudo para ser abusivo porque ( quando confrontados com um harém de mulheres grávidas que não podem sustentar a si próprias), ele será o único responsável . A mulher vai se tornar um cidadão de segunda classe, valorizado apenas por sua capacidade de ter filhos, da mesma forma como na sociedade matriarcal, o homem só seria valorizado por permitir que a mulher tenha filhos.

Toda sociedade que se avançou e se desenvolveu plenamente, historicamente, superou as fases do matriarcado e da poligamia . Isso se verifica como necessário para o desenvolvimento,  pois o  matriarcado rebaixa os homens e a poligamia rebaixa as mulheres. Só na monogamia a mulher e o homem são idealmente tratados como iguais .

O verdadeiro avanço para a humanidade não foi apenas a predominância gradual da monogamia , mas o ideal cristão da monogamia . Foi só  através do cristianismo que se exaltou a união do homem e da mulher a tal status elevado. Os antigos romanos ficaram maravilhados com a forma com que maridos e esposas cristãos realmente amavam uns aos outros. Que uma mulher ( que era então considerada pouco mais que um escrava ) fosse tratado com respeito e honra no casamento foi algo revolucionário . Que  o casamento devesse durar por toda a vida ( oferecendo assim segurança e proteção para a mulher ) foi algo inovador . Que o casamento fosse entendido pelos cristãos como carregado de significado teológico tornando-se um sacramento e em uma das maneiras em que a salvação da alma fosse alcançada , foi uma inovação radical no significado desse laço. Esse casamento, que significava a união entre Deus e a humanidade representou um salto espantoso na compreensão social e interior do ser humano.

Agora, vemos essa compreensão cristã do casamento como algo do qual,  precisamos urgentemente nos libertar . Em vez disso, optamos por uma forma mais primitiva e ignorante da vida familiar. Os frutos disso tudo serão observados em uma sociedade influenciada pela atitude do homem frente ao matriarcado e da mulher dentro da poligamia : uma sociedade com baixa auto- estima, falta de objetivos, e baixa realização. Será uma sociedade do dependente crônico , e quando as pessoas estão cronicamente dependentes deve haver sempre um tirano que  possa ser escolhido para governá-los.